Uma bomba explode no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque. Nesse
dia, com apenas 13 anos, Theodore Decker perde a mãe, mas ganha um
quadro e um anel de sinete.
O quadro é o famoso "O Pintassilgo"
de Fabritius, um discípulo de Rembrandt, considerado um génio perdido
entre as grandes figuras da pintura holandesa do século XVII. Todas as
subsequentes 800 e tantas páginas giram em torno desta obra de arte,
cujo incalculável valor (sentimental para Theo, artístico e patrimonial
para a humanidade) a transformam em objeto de admiração e cobiça.
O
anel de sinete era pertença de um idoso que estava no museu com a neta e
um objeto que acaba por determinar o percurso de vida de Theo, que
segue o rastro desse anel até um antiquário, um local que será
determinante no seu futuro.
Simultaneamente talismã e maldição, o
quadro "O Pintassilgo" acompanha todo o percurso de Theo, de Nova
Iorque a Las Vegas, e posteriormente até Amesterdão.
Órfão
de mãe, Theo parte com o pai para Las Vegas, levando consigo em sigilo o
famoso quadro e um desgosto que lhe parece inultrapassável. É lá que
conhece Boris, uma das personagens mais cativantes deste romance, e com o
qual se tenta reinventar através do esquecimento e fragmentação que só o
álcool e as drogas podem proporcionar.
Quando regressa a Nova
Iorque, Theo já é um adolescente quebrado por dentro: nunca recuperou da
experiência traumática vivida no dia do atentado e nunca há-de emergir
do ciclo vicioso iniciado em Las Vegas - os opiáceos eram a única fuga
possível, catapultando-o para uma dormência tolerável.
O que se
segue já faz parte da enredo do próprio livro. Theo volta à loja de
antiguidades, à qual ficou irremediavelmente ligado desde que aceitou o
anel de sinete das mãos do velho Welty, naquele dia fatídico.
A atribuição das 3 estrelas prende-se exclusivamente com a dimensão
monstruosa do livro: são quase 900 páginas, indispensáveis para a total
compreensão da narrativa, é certo, mas de certa forma cansativas e
desmotivantes a partir do último terço da obra. Ainda assim, é uma
história que vale a pena: a profundidade e complexidade das personagens,
bem como a forma como a autora tece todo o enredo são, de facto, dignos
do prémio Pulitzer para a ficção, que ganhou em 2014.
✰✰✰ (3 em 5)